Tuesday, 23 October 2012

Atividade Prática 8 - Bloco Abstração: "Abstractoy"




Pós-graduação em Artes Visuais - Cultura e Criação
Senac - Centro Nacional de Educação a Distância


Atividade Prática 8 - Bloco Abstração

 "Abstractoy"



A atividade prática do bloco temático 8, relativo à abstração, procurou se inspirar propositalmente, não em uma alternativa, mas nas duas opções sugeridas para a justificativa do exercício, conforme descritas abaixo.

"a) Nas artes visuais, abstrair pode significar a busca pelos traços essenciais de uma forma ou linguagem. Escolha um objeto qualquer e procure abstrair sua aparência. Crie uma imagem abstrata que sintetise a estrutura plástica desse objeto.

b) Faça uma experiência semelhante à de Yves Saint Laurent. Escolha uma das obras abstratas vistas ao longo deste bloco e imagine a apropriação de sua linguagem visual por um objeto de uso corrente. Crie uma imagem que represente esse objeto.”

A definição poética de Paul Klee, sobre a abstração, diz que o artista moderno é um criador de formas que não existem, até que ele as faça aparecer sobre uma tela, uma folha de papel, um bloco de argila, ou qualquer outro material de sua escolha. É um inventor, um pesquisador que está sempre ampliando as possibilidades das linguagens visuais. Assim, a abstração não seria uma pesquisa dedicada a reproduzir as formas do mundo, mas sim a investigar o surgimento das formas na superfície virgem do material escolhido,   como elas se desenvolvem, e se tornam visíveis a partir de simples traços e   elementos plásticos, como o ponto,  a linha, o plano e a mancha, que se desdobram no papel, criando estruturas mais complexas.

A idéia de Klee serviu como justificativa, do experimento  artístico, realizado nesta atividade prática, intitulada "Abstractoy". O objetivo seria a produção de Toy  Arts, que teriam como elemento estrutural, a utilização de formas abstratas. A referência para a definição dessas formas, partiu das imagens de "Splashs", manchas geralmente associadas à idéia de fluidez ou constituição líquida.



Exemplos de Splashs, extraídos de artes gráficas para estamparia e Silk-screen


Toy art é um termo que  define o conceito de "brinquedo de arte". É um brinquedo feito para não brincar, dirigido  especialmente para adultos - e com o intuito de colecionismo ou decoração. O toy art é, em síntese, uma "tela" em 3 dimensões para artistas e designers expressarem sua arte. Toy Art é uma manifestação contemporânea que se apropria do brinquedo para mesclar design , moda e urbanidade.



 Exemplo de Toy Art


 Referência de Toy Art na linguagem de animação: Monstros S.A. ,


A temática, é geralmente infantil, baseada em bichinhos, personagens famosos, de desenhos animados ou super-heróis. Os temas de um toy art podem ser meigos, violentos, subversivos, políticos, cômicos, criativos ou de linguagem urbana, underground, erótica, satírica, etc. O intuito do toy art é, como qualquer obra de arte, causar alguma reação no observador.

Alguns modelos de toy art foram estudados e observados em sua composição. Para tanto foram pré-estabelecidos alguns critérios que o ABSTRACTOY deveria ter. A princípio pretendia-se fazer um brinquedo com forte teor artístico, design relacionado às formas dos "splashs", que em suma são formas que sugerem certo tipo de abstração. A matéria-prima utilizada para sua confecção deveria ter caráter alternativo e sustentável, e por isso pensou-se em fazê-los, a partir de reaproveitamento de retalhos de tecidos, em texturas e cores diversas, e com enchimento.  Assim como na obra de Klee, em que  "manchas de cor criam  profundidade espacial, e um grande ponto central, marcando intensidade e direção, como um alvo a ser atingido pelo olhar", determinou-se que estes ABSTRACTOYS, teriam um mesmo elemento em comum, que foi definido a partir da pesquisa de algumas imagens. Nesta etapa, entrou em cena, o senso estilístico do autor e sua empatia com uma particularidade que lhe chamou a atenção e despertou interesse: olhos grandes e expressivos.


 Modelos de Toy Art com olhos grandes - referência padrão para o  projeto.


Definidas as diretrizes, iniciou-se a fase de confecção dos Abstractoys, que é descrita a seguir, conforme a sequência de imagens.

Etapa 1 - Definições dos desenhos e moldes das formas dos Abstractoys

As formas foram desenhadas e modeladas em papel, obedecendo critério de simetria, padronizados com dimensões de aproximadamente 12 x 12  cm, e de acordo com a liberdade criativa do autor.

 Desenhos e moldes para ABSTRACTOYS

Etapa 2: Confecção e  Montagem

Desenvolvidas as formas e moldes, iniciou-se o processo de montagem e confecção, que compreendeu:a  escolha dos retalhos, o risco e corte dos moldes no tecido, a costura, o enchimento, e a posterior aplicação dos detalhes(olhos).


 Matéria-prima: Retalhos de tecido, Enchimento de algodão,  Feltro, plástico e Cola.


Risco dos moldes


 Corte dos moldes


Costura e enchimento dos toys


O resultado final constituiu a primeira série limitada de ABSTRACTOYS. Observou-se que as formas abstratas, baseadas em splashs e, portanto caracteristicamente fluidas, remetian à animais aquáticos, e devido à essa associação os ABSTRACTOYS desta série, em número de seis, foram batizados com nomes em alusão a esses seres.

 Anêmona, Estrela, Medusa,Ostra, Pepino e Siri, compõe esta série de ABSTRACTOYS. Foi produzido ainda um ABSTRACTOY personalizado e com aspecto diferenciado, em versão exclusiva e limitada, o Siri Oncinha.

A série foi fotografada e articulada, e as imagens podem ser conferidas a seguir.


ABSTRACTOYS (série 1 "Splashs", 2012 - Thiago Cerejeira


 Família Abstractoys

 
Como justificativa à opção “b” utilizei uma montagem destes Toy Arts, em composição com a famosa obra de Mondrian.


ABSTRACTOYS em “Composição com Vermelho, Azul e Amarelo”, 1921 de Piet Mondrian



Agradecimento especial:

“À toda a família Cereejeira que se mobilizou para a realização desse projeto”

Atividade Prática 7 - Bloco Montagem: "Editorial Fotomontagem: Diário Teen"



Pós-graduação em Artes Visuais - Cultura e Criação
Senac - Centro Nacional de Educação a Distância


Atividade Prática 7 - Bloco Montagem


"Editorial Fotomontagem: Diário Teen"


A proposta escolhida para realização da atividade prática 7, do Bloco Montagem, contemplou a seguinte idéia, definida na alternativa abaixo:

"b) A justaposição de elementos diferentes, como materiais de efeitos opostos ou imagens contrastantes entre si, é um modo de se produzirem novos significados. Crie uma imagem cujo sentido explore a tensão entre os elementos articulados."

Várias foram as inspirações que fundamentaram a realização desta atividade. As principais referências surgiram no entanto, do universo lúdico. Jogos de montar, como LEGOS e Puzzles, revistas de "corte, pinte e vista o seu boneco", Vinhetas televisivas surreais. Todas remetendo muitas vezes, à um universo muito próprio, particular e autoral. Partindo daí, a associação imediata foi a das redes sociais em que se pode montar um espaço que, de certa forma represente seu mundo. Cada vez mais as pessoas no mundo contemporâneo buscam essa intertextualidade, utilizando para isso colagens e fragmentos, sejam eles de textos, imagens, audiovisuais, entre outros.

Montar é unir elementos com a finalidade de se produzir um todo coerente, portanto a montagem é o resultado das combinações e justaposições, estabelecidas entre esses elementos. Raoul Hausmann contrariou esse conceito de coerência,  em sua fotocolagem de 1923. O artista utilizou recortes de fotografias, em uma  justaposição aleatória, e mesmo confusa, entre imagens e letras, que subvertia a estrutura simbólica da montagem, que vinha sendo utilizada pelos cubistas.  Além disso, essas fotomontagens dadaístas subvertiam também o espaço tradicional da fotografia, que é sempre organizado a partir de um único ponto de vista, estabelecido pelo próprio mecanismo ótico das lentes, e da câmera fotográfica.  Ao misturar várias visões incompatíveis sobre um mesmo suporte, Hausmann
rompeu com o caráter descritivo do espaço fotográfico e contribuiu para o seu desenvolvimento crítico e criativo.

 ABCD, Retrato do artista, 1923 - Raoul Hausmann


A idéia era explorar algo semelhante ao processo da fotocolagem de Hausmann, porém em um contexto contemporâneo. Por conseguinte, decidiu-se usar a moda, como embasamento, e optou-se pela construção de um formato de um editorial, recurso comumente utilizado em publicações neste segmento.

Um editorial de moda tem como função divulgar uma ou mais marcas a partir de um conjunto de imagens e de um conceito.  É um dos mais poderosos instrumentos de divulgação no mundo da moda. Através do artístico e conceitual ele mostra novas tendências. Un editorial de moda nada mais é que várias fotos feitas dentro de uma mesma ideia, conceito, e com essas fotos divulga-se de maneira artística e mais inconsciente, as marcas e produtos.  Além da função comercial, os editoriais têm a função de transformar as revistas em algo mais dinâmico. Serve como uma grande fonte de inspiração para novas produções e catálogos de moda.


Editorial de moda para Revista Capricho, 2012

Assumindo a condição do conceito de editorial, pensou-se no segmento a ser explorado, e escolheu-se o público jovem, mais especificamente a categoria  "teenager", por apresentar uma forte  ligação com o universo lúdico e pop, sendo também caracterizado como público assíduo de redes sociais e meios de comunicação em massa.

O maior propósito, era elaborar algo de forma simples e prática, como em um processo dinâmico de montagem, onde várias partes, de vários tipos , se unissem com a função de resultar em um todo, não necessariamente coerente, mas conceitual, inspirador, instigante.

A etapa inicial, constituiu-se na pesquisa de imagens chave, que iriam compor o editorial pretendido. Utilizou-se, mais uma vez, a referência da marca fictícia TTOR, para uma melhor idealização e excelência no resultado final. As imagens que serviram como ponto de partida, foram as de um catálogo, em versão lookbook, de uma marca americana, que apresentaram-se particularmente interessantes em sua composição, por estarem em um formato como nos já citados livros de "corte, pinte e vista seu boneco". A partir delas (neste caso um look feminino e um masculino), foram selecionadas todas as outras imagens complementares, que intencionalmente, para efeito de praticidade, deveriam ter a mesma característica das fotos base: fundo preto.


 Imagens base, extraídas de lookbook da marca Vintage, 2008

A tentativa era montar um editorial que insinuasse algo sobre o universo do casal, como  seu tipo de  envolvimento, personalidade, hobbies, além obviamente, do principal, revelar o estilo e o conceito do produto e da marca, objetivo maior deste tipo de veiculação. Há ainda, na caracterização dessa montagem, a mensagem subliminar, de que esta seria uma fotocolagem realizada, pela própria garota que ilustra a campanha, como se esta, fosse uma página de seu diário íntimo, objeto  típico das adolescentes, onde elas esquematizam referências de seu "mundinho", ainda que, na era cybertecnológica, estes tenham se tornado virtuais, caso das redes sociais.  O resultado então, pode  ser conferido na imagem a seguir, resposta à atividade deste bloco.


Editorial Fotomontagem : Diário Teen, para marca TTOR, 2012 - Thiago Cerejeira

Fórum 8 - Bloco Abstração



Pós-graduação em Artes Visuais - Cultura e Criação
Senac - Centro Nacional de Educação a Distância



Fórum 8 - Bloco Abstração


A técnica inventada por Tabard foi outro modo de extrair imagens abstratas de meios fotográficos, sendo o processo químico tratado à maneira de uma pintura informal. Em sua obra, e também na do pintor Iberê Camargo, os nexos com a realidade se estabelecem através de uma materialidade sem contornos definidos ou controláveis, que os artistas manipulam dando margem ao inesperado. Pense: o que isso lhe diz sobre a experiência do real? Talvez possamos ver nos dois casos um desejo de estabilizar formas em matérias instáveis. Ambos aludiriam, assim, à relação produtiva do indivíduo com um real sempre complexo e jamais plenamente apreensível.

Agora pense mais detidamente a respeito da obra de Yves Saint Laurent, que estabelece uma relação direta entre um vocabulário abstrato e a realidade tangível do corpo feminino. Reflita sobre a apropriação da estética neoplástica pela moda dos anos 60, vá ao fórum e debata o sentido dessa apropriação no vestido Mondrian.


O Vestido Mondrian é um marco porque representa o momento em que a moda estreita sua relação com a arte. Obviamente que alguns estilistas precursores já na primeira metade do século 20, ensaiavam esta afinidade. Ressalva aos que já foram discutidos por aqui, Poiret, Vionnet, Versace, e um destaque  especial para Coco Chanel e Elsa Schiaparelli, que dialogaram bem com artistas de seu tempo, como Picasso e Dalí.

O Vestido criado porSaint-Laurent estabelece ainda uma antecipação do que viria a ser o minimalismo na moda. De fato essa é uma estética que só se estabeleceu realmente nos anos 90, após as excessivas e contagiantes décadas de 70 e 80. YSL parecia prever que a moda experimentaria de tudo, para enfim se render à uma sintese visual de planos e linhas retas, e cores lisas. Ele buscou inspiração estratégica, no neoplasticismo incentivado por Van Doesburg e Mondrian, que  se organizava em  torno da necessidade de clareza, certeza e ordem. O movimento Tinha como propósito  central encontrar uma nova forma de expressão plástica, liberta de sugestões representativas e composta a partir de elementos mínimos. Essa abstração é racional e geométrica. A utilização das cores primárias, e do branco , preto e cinza, que eram defendidas por Mondrian como as cores elementares do universo, em blocos assimétricos, como podemos observar na tela em questão,   cria um efeito monumental,  apesar da escassez de meios, propositalmente limitados, que emprega.

Saint Laurent foi genial neste sentido. A estruturação da modelagem  da peça, a linha tubo,  obedece ao parâmetro ortogonal da pintura de Mondrian, com um corte reto, seco, longe do corpo, silhueta que  inclusive foi hit nesse período, em que os prospectos espaciais, dominavam a cena. Assim, percebo essa releitura e apropriação do neoplasticismo, como uma conveniência aos esquemas estéticos que se firmavam naquele período.  O Vestido  Mondrian de  YSL, a transposição da Op Art    de Pierre Cardin, os cortes       construídos e arqui-estruturados de Courréges,
nos quais os materiais   contemporâneos (plásticos,       papel ou metal) são   simplesmente expressão de      uma moda de sínteses. Síntese entre a pintura, a     arquitetura e o desenho.     Síntese entre linha e cor. Sua obra, muitas vezes copiada, continua a inspirar a arte, o design , a moda e a publicidade que a apropriam como design, sem necessariamente levar em conta sua fundamental e filosófica recusa à imagem.

Há uma linha de pensamento que afirma que as grandes inovações na moda foram até os anos 80, e de lá para cá apenas as releituras reinaram. Sempre algo cinquentinha, ou com uma pitada hippie, ou meio punk, se arriscando no máximo, a um revival grunge do início dos 90.

Para  a arte contemporânea eu percebo uma atmosfera bem dissonante do que se pintou no modernismo ,   em que o artista tentava preservar sua autonomia indo contra o mercado oficial. Hoje tem-se um esquema comercial, extremamente capitalista e estratégico, por trás deste novo mercado de arte,    que envolve inúmeros profissionais de comunicação.  É uma situação paradoxal para oartista criador: sem ele, a rede de comunicação não pode existir, mas ele também não pode existir sem essa rede que se encarrega de lhe dar visibilidade: dentro deste novo esquema a transparência é total e a obra de um artista deve estar presente em várias exposições durante o ano todo. Estar in ou out é uma escolha difícil que o artista deixa a cargo de seu produtor.  Há uma absorção da autonomia pela comunicação. O artista que entrou no mercado fica coagido a aceitar suas regras se quiser continuar nele. Isto é, se renovar e se  individualizar em permanência sob pena de desaparecer.  É preciso então renovar de alguma maneira essa massa, proceder a uma individualização, multiplicar as entradas. Será a corrida à mudança, à procura de novas apelações, de novos artistas, de novos movimentos.

Podemos dizer que existe um efeito "second life", pois a ideia tradicional de arte
"autonomia, valor absoluto, critérios estéticos " e a ideia de artista "exprimindo  uma ideia nova, crítica da sociedade " contribuem para mascarar esse esquema em rede e altamente comercial que se descortina por detrás da arte contemporânea. A realidade da obra de arte contemporânea se constrói fora das qualidades da obra, na imagem que ela suscita nos circuitos de comunicação.

Além das referências de moda sixties, cito como  exemplos, dois artistas da arte contemporânea brasileira, que vem despontando no mercado internacional e trazem trabalhos interessantes de releituras. Adriana Varejão com trabalhos que revisitam o barroco e Vik Muniz com suas intervenções insólitas de obras clássicas.


Da esquerda para a direita, de cima para baixo:

YSL (Mondrian Dress), Pierre Cardin;

André Courréges, Paco Rabanne, Loks maxi/mini/midi;

"Azulejaria Verde em Carne Viva", 2000 - Adriana Varejão

"A Morte de Marat", 2008 -  Vik Muniz