Pós-graduação em
Artes Visuais - Cultura e Criação
Senac - Centro
Nacional de Educação a Distância
Questão Individual 5
Texto:
Mostra-me o teu Limoges, e te direi quem és
por Thiago Cerejeira
A verdade é que já não se fazem mais Limoges
como antigamente. A aristocrata sociedade do começo do século XX exibia e
ostentava estes ricos serviços, compostos por louças pintadas a mão, com
decoração especialmente pensada e planificada, como nas célebres peças de peixe
com pinturas exclusivas e posteriormente assinadas. O exemplo desta porcelana
clássica, representa bem a evolução sofrida pelo design, ao longo deste
período, que irá culminar com a decadência da estética modernista. Neste caso
específico, evidencia-se a constatação de que nos dias atuais, as fábricas de
Limoges continuam produzindo suas louças, com formas e motivos inteiramente
modernos, embora a tradicional seja também feita em novas linhas. Algumas
dessas fábricas ainda aceitam encomendas para completar serviços antigos, porém
pelo seu elevado preço, estas encomendas nem sempre tem o sabor e a nostalgia
das peças pioneiras, já que estas, banhadas pelo tempo, adquiriram encanto e
valor inestimável.
Limoges do século XIX
Uma rápida passagem, pela historiografia do
design, permite observar que as iniciativas de artistas modernos, demonstram a
relação entre arte e design, presente nas propostas modernistas. O móvel fazia
parte de um ideal moderno, em harmonia com a nova estética do período.
Influências da Arte Déco e do Cubismo eram as referências destes artistas. A
partir da década de 50 a euforia desenvolvimentista foi baseada na
racionalidade e no planejamento. É neste período que o design se moderniza, não
apenas para atender uma demanda da nova arquitetura, mas para acompanhar uma
nova ordem social, política e cultural que se estabelece. A associação entre
arquitetura, design de interiores, mobiliário e progresso contribui para o
trabalho de vários profissionais, que passam a trabalhar junto a arquitetos,
fornecendo móveis e utensílios com a mesma linguagem moderna dos espaços aos
quais se destinam. Esta parceria pode ser exemplificada pela concepção de
Walter Gropius, idealizador das principais diretrizes da escola alemã Bauhauss,
que enfatizava que, o design era a unidade entre a arte e a técnica, isto é,
entre a pesquisa estético-formal e as
novas condições tecnológicas da modernidade. Os projetos deveriam portanto,
incorporar características específicas dos processos de fabricação seriada.
A noção de contexto se instala desde os
primeiros movimentos dos anos 1960, quando ocorreu a transfiguração do banal
com a Arte pop. O deslocamento do significado da obra para além de sua
materialidade, para outro contexto, é o que dá nexo à obra de arte. A arte
existe, então, para além dos objetos; ela se configura dentro do pensamento de
quem a aprecia, de quem usufrui e mesmo a completa segundo o contexto de onde
ela se originou e o contexto em que ela se encontra. As obras de Gaetano Pesce, Alessandro Mendini
e Irmãos Campana têm efetivamente uma relação com tal ideia, no aspecto do
questionamento inconformista, na irreverência e na reciclagem de materiais
antes considerados desprezíveis. No passado, as regras ditadas pela estética
modernista vinham acompanhadas do emprego de materiais suntuosos e nem sempre
de custo acessível. O anti-modernismo surgiu como um questionamento, sobretudo
a este ditame, que parecia considerar estes critérios de suntuosidade como
sinônimo de bom gosto e indissociáveis entre si. Os movimentos antimodernistas
recentes quebraram estas barreiras, possibilitando um ecletismo e uma livre
circulação, onde não há o belo ou o feio, mas simplesmente a aceitação de que
tudo pode ser reaproveitado, e de onde pode surgir uma idéia surpreendente que
redimensiona os parâmetros estéticos.
O design pop desses artistas, oferece
experiências lúdicas, porque sugere ironia e humor, por meio das formas que
surpreendem. O móvel deixa de ser pensado como produto funcional apenas. Recebe
elementos que possibilitam uma interação com os usuários a partir das sensações
e da subjetividade que são estimuladas por cores vibrantes, formas orgânicas e
materiais sintéticos e variados. Eles recriam e redesenham os objetos criando
uma forma irônica e cheia de estilo aos que as contemplam. Oferecem nova vida a
objetos obsoletos e até desprezados fazendo-os renascer. Os objetos são caracterizados por suas
transformações, e assim, os artistas mostram como um móvel antigo pode se
transformar, criando uma aparência mais moderna (do clássico ao
contemporâneo) a partir de suas
interferências, deixando evidente, a conexão que o ser humano tem com o
passado.
Cadeiras Mendini,
1973 - Alessandro Mendini
cadeira Favela, 2003
- Irmãos campana
Contra essas condutas elitistas e a linguagem
hermética do Modernismo, vai se desenvolver o Pós-Modernismo. E esse movimento
é um filho direto da sociedade de consumo. Enquanto os modernistas fizeram
questão de se manter à parte daquilo que era popular e de massa, imbuídos de
ideais heroicos e políticos, o Pós-Modernismo sucumbe de vez ao apelo do
consumo e da variedade. Desde os anos 1920, arquitetos modernos funcionalistas
criavam projetos que transformavam as moradias em "máquinas para
morar". Seus projetos foram amplamente utilizados, sobretudo depois da
Segunda Guerra, em projetos urbanistas em que a racionalidade e a adequação à
função passavam à frente do bem-estar dos que viviam nesses espaços e moradias
que renegavam toda a tradição cultural do local. Por outro lado, a maneira de
encarar o urbanismo e a arquitetura marcou o que se pode chamar de
cidades-colagens, em que o velho e o novo participam com a mesma intensidade e
criam um ambiente acolhedor para os habitantes. Longe renovar a cidade com construções
todas semelhantes, com torres de concreto e vidro, o urbanismo pós-moderno
deveria partir do que havia e revitalizar os sinais desse passado, garantindo a
identificação da população com seu espaço urbano. Um grande marco dessa cultura
híbrida foi o edifício da AT&T, com seu frontão em estilo Chippendale,
sobre a torre de vidro que se apoia em colunas gregas, sinais de um ecletismo
fulgurante que passará a marcar toda a cultura da Pós-Modernidade. O edifício
da AT&T em Manhattan, hoje o edifício da Sony, foi concluído em 1984 e
imediatamente suscitou críticas por seu frontão em estilo Chippendale. Foi
visto como uma provocação em grande escala: coroar um arranha-céu em Manhattan
com uma forma com ecos de acabamento de guarda-roupa histórico desafiou o
preceito da estética: padrões históricos tinham sido efetivamente alijados dos
preceitos da arquitetura moderna. Outros críticos viram o edifício da AT&T
como o primeiro exemplo de Pós-Modernismo necessário para a dissolução do
impasse do Modernismo.
Edifício da AT&T,
Manhattan, 1984 - Phillip Johnson











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