Tuesday, 23 October 2012

Fórum 7 - Bloco Montagem



Pós-graduação em Artes Visuais - Cultura e Criação
Senac - Centro Nacional de Educação a Distância

 

Fórum 7 - Bloco Montagem


Podemos dizer então que o emprego da montagem permitiu uma passagem histórica entre dois modos de articulação da forma na arte: de um cuja coerência se baseava num referente externo e reconhecível (como seria a garrafa na obra cubista) para outro de coerência estrutural e auto-referente, isto é, baseada nos próprios procedimentos e materiais da obra (como as propriedades dos diferentes metais na obra construtivista). Assim, a montagem colaborou para a liberdade formal e para maiores possibilidades de reinvenção e abertura da estrutura da obra de arte. Isso, por sua vez, culminaria na idéia de uma estrutura transitória, reversível ou modificável, que ganhou força sobretudo a partir dos anos 50.

Dentre as obras vistas neste bloco, considere especialmente a de Raoul Hausmann e a de Dziga Vertov. Reflita sobre como cada uma estabelece articulações próprias entre os seus elementos, envolvendo os espectadores em dinâmicas perceptivas bem complexas. Discuta com seus colegas algumas semelhanças e diferenças entre as experiências produzidas pela montagem nas duas obras.


Resposta:


Bem, O tema da Montagem, me remeteu, logo de imediato, à tempos nostálgicos de  minha  infância, em que me via cercado de LEGOS e PLAYMOBILLS, experimentando, construindo e desconstruindo, à torto e à direita. Brincando de  escultor, engenheiro e arquiteto e, sem me aperceber, adquirindo uma consciência estratégica. Também era viciado em  Puzzles. Os de arte então eram os meus preferidos. Meu primeiro, aos 6 anos, era uma tela do Bruegel (Jogos Infantis) - que, inclusive, lembro perfeitamente e em detalhes, até  hoje.  Ainda não havia esse senso intelectual e metido a besta, que se adquire na vida adulta, e as interpretações eram mais naturais, instintivas, prazerosas. Montei vários. Passava dias a fio naquele ato  compulsivo e obstinado, de chegar às formas perfeitas e ao resultado final. Essa paixão continuou durante a vida escolar, e quantas e tantas vezes, me peguei fazendo aqueles trabalhos de colagem com papel picado, tipo mosaico.  Risos. Divertidíssimo. Haviam umas revistas que se podia cortar o desenho das roupas e aplicá-las nos bonecos, vestindo-os. E mal sabia eu, que o destino conspirava ameu favor, e me pregaria uma peça, fazendo com que   essa "brincadeira" viesse a se tornar, anos mais tarde,  minha profissão.

E então fiquei pensando na ligação entre essa associação imediata, dos meus passatempos lúdicos, quando criança, e o sentido da montagem, propriamente dita, em termos artísticos,  conforme exposto nas obras do bloco. E aí me deparei com a colagem de Picasso, a fotomontagem de Hausmann, o filminnho lá do Vertov, as esculturas multi-metálicas, o assemblage à la vídeo-arte do Viola. Ufa!! Que material  incrível... E caiu a ficha.  "Também já fiz arte quando mais jovem" -  pensei.  Agora não mais.  Regredi? Será? Involuí? Talvez não. Tudo depende das oportunidades. Quem  sabe esteja voltando a fazer agora ...com as atividades práticas da Pós...que maravilha. Bom ter essa sensação novamente. Fico mais aliviado.

Quem sabe, essa talvez não fosse a sensação dos  dadaístas, que jogaram a tinta no  ventilador, literalmente. Eles tiveram, afinal, essa oportunidade de, em um momento preciso, instituir e chamar a atenção para novas formas de se expressar na arte. Ousaram nas  apropriações estéticas. Romperam com padrões e inovaram na releitura de linguagens em  evidência, como no caso da montagem, que vinha sendo o brinquedinho  favorito dos cubistas. Experimentaram suas idéias  nas  Artes plásticas, cinema e, quem diria, até na poesia.  E os respingos da tinta que caiu no ventilador, foram longe. Que assim  o digam os  norte-americanos. E os brasileiros, como Mário e Oswald de Andrade também. Modernistas insatisfeitos, com um nível de acidez elucidativa e corrosiva. Surpreso e  Curioso, fui em busca de referências que tratassem da relação da montagem com a poesia, no contexto dadaísta.  No texto "Para fazer um poema dadaísta", Tristan Tzara, através da metalinguagem, faz o eu-lírico, dar  as dicas:

(...)Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você.  E eis um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.(...)

(TZARA, 2009)

Essas linhas, já são,  sem dúvida, uma rica inspiração  para os arte-educadores de plantão. Imagine "Montar", um poema dadaísta, com o pessoal  lá do ensino médio? De  cara, já dava um bom jogo teatral ou dramático, com os alunos. Texto  coletivo, poesia montada, etc.  E daí, trazer à pauta, o tão polêmico e emblemático  urinol invertido, ou "Fonte, como queiram chamar, símbolo mor de   Duchamp e da arte Dadá, e discutir o  conceito de sua  proposta, que pretendia, através de temas absurdos e, à primeira vista, sem lógica, fazer uma  ridicularização do tradicionalismo, crítica ao capitalismo e ao consumismo.  Expressão por meio de sons, fotografias, objetos do cotidiano modificados, poema-piada e paródia. Tudo muito incômodo e dinâmico.

 Dinâmico...dinamismo. Esse é o elo entre as obras de Hausmann e Vertov. A  idéia de montagem que eles propuseram evidencia claramente esse aspecto. As obras transmitem, cada uma à sua maneira, as mesmas sensações: Caos e desordem. Hausmann, de forma estática em sua fotomontagem. Vertov, no ritmo frenético de seu filme. É nítido o desejo de transgredir e criticar, de certo modo, a sociedade, abalada e devastada pelo pós-guerra, e com novos valores entrando em cena, como o ritmo acelerado da modernidade. Essa arte, defendida por Vertov e Hausmann, se firma como um grito contra a própria arte, chamando a atenção de seus realizadores, para seu poder de transformação, sua capacidade de influenciar e transformar pensamentos e atitudes.

Momento decisivo, quebradiço, fragmentado, como em um quebra-cabeça, onde no final se consegue um todo coerente, ou não...como diria Caetano.

Muito bem. Então agora, fugindo um pouco da  teoria, vamos ao que de fato interessa, o processo prático.   Vejam só  que  belezinha de montagens nestas referências que seguem. Especialmente lúdicas, para ilustrar meu clima de nostalgia. Assumo, que sou suspeito para falar dos dois casos, pois na minha opinião,  considero-os incrivelmente criativos. Talvez não sejam  revolucionários, do ponto de vista  artístico, mas a mim, confesso, exercem total poder de sedução.

As esculturas   feitas de LEGO conseguem, de forma divertida,  traduzir bem o ideal da Montagem, que  remete frequentemente à idéia de elementos que podem ser  desmontados e remontados inúmeras vezes, constituindo uma estrutura  aberta, transformável, adaptável a diferentes situações.

O video,  feito recentemente para a campanha publicitária de um shopping londrino, que  mostra de forma bem descontraída as variações de moda , dança e música nos últimos 100 anos, risos, diga-se,pasmen, em 100 segundos, também evidencia a essência da montagem, através da  justaposição de imagens opostas, que fazem surgir um sentido de  complementalidade entre elas, uma metáfora do próprio ritmo da vida.

P.S.: Para mais imagens das esculturas de lego:




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