Pós-graduação em Artes Visuais - Cultura
e Criação
Senac - Centro Nacional de Educação a
Distância
Fórum 7 - Bloco Montagem
Podemos dizer então que o emprego da montagem
permitiu uma passagem histórica entre dois modos de articulação da forma na
arte: de um cuja coerência se baseava num referente externo e reconhecível
(como seria a garrafa na obra cubista) para outro de coerência estrutural e
auto-referente, isto é, baseada nos próprios procedimentos e materiais da obra
(como as propriedades dos diferentes metais na obra construtivista). Assim, a
montagem colaborou para a liberdade formal e para maiores possibilidades de
reinvenção e abertura da estrutura da obra de arte. Isso, por sua vez,
culminaria na idéia de uma estrutura transitória, reversível ou modificável,
que ganhou força sobretudo a partir dos anos 50.
Dentre as obras vistas neste bloco, considere
especialmente a de Raoul Hausmann e a de Dziga Vertov. Reflita sobre como cada
uma estabelece articulações próprias entre os seus elementos, envolvendo os
espectadores em dinâmicas perceptivas bem complexas. Discuta com seus colegas
algumas semelhanças e diferenças entre as experiências produzidas pela montagem
nas duas obras.
Resposta:
Bem, O tema da Montagem, me remeteu, logo de
imediato, à tempos nostálgicos de
minha infância, em que me via
cercado de LEGOS e PLAYMOBILLS, experimentando, construindo e desconstruindo, à
torto e à direita. Brincando de
escultor, engenheiro e arquiteto e, sem me aperceber, adquirindo uma
consciência estratégica. Também era viciado em
Puzzles. Os de arte então eram os meus preferidos. Meu primeiro, aos 6
anos, era uma tela do Bruegel (Jogos Infantis) - que, inclusive, lembro
perfeitamente e em detalhes, até
hoje. Ainda não havia esse senso
intelectual e metido a besta, que se adquire na vida adulta, e as interpretações
eram mais naturais, instintivas, prazerosas. Montei vários. Passava dias a fio
naquele ato compulsivo e obstinado, de
chegar às formas perfeitas e ao resultado final. Essa paixão continuou durante
a vida escolar, e quantas e tantas vezes, me peguei fazendo aqueles trabalhos
de colagem com papel picado, tipo mosaico.
Risos. Divertidíssimo. Haviam umas revistas que se podia cortar o
desenho das roupas e aplicá-las nos bonecos, vestindo-os. E mal sabia eu, que o
destino conspirava ameu favor, e me pregaria uma peça, fazendo com que essa "brincadeira" viesse a se
tornar, anos mais tarde, minha
profissão.
E então fiquei pensando na ligação entre essa
associação imediata, dos meus passatempos lúdicos, quando criança, e o sentido
da montagem, propriamente dita, em termos artísticos, conforme exposto nas obras do bloco. E aí me
deparei com a colagem de Picasso, a fotomontagem de Hausmann, o filminnho lá do
Vertov, as esculturas multi-metálicas, o assemblage à la vídeo-arte do Viola.
Ufa!! Que material incrível... E caiu a
ficha. "Também já fiz arte quando
mais jovem" - pensei. Agora não mais. Regredi? Será? Involuí? Talvez não. Tudo
depende das oportunidades. Quem sabe
esteja voltando a fazer agora ...com as atividades práticas da Pós...que
maravilha. Bom ter essa sensação novamente. Fico mais aliviado.
Quem sabe, essa talvez não fosse a sensação
dos dadaístas, que jogaram a tinta
no ventilador, literalmente. Eles
tiveram, afinal, essa oportunidade de, em um momento preciso, instituir e chamar
a atenção para novas formas de se expressar na arte. Ousaram nas apropriações estéticas. Romperam com padrões
e inovaram na releitura de linguagens em
evidência, como no caso da montagem, que vinha sendo o brinquedinho favorito dos cubistas. Experimentaram suas
idéias nas Artes plásticas, cinema e, quem diria, até na
poesia. E os respingos da tinta que caiu
no ventilador, foram longe. Que assim o
digam os norte-americanos. E os
brasileiros, como Mário e Oswald de Andrade também. Modernistas insatisfeitos,
com um nível de acidez elucidativa e corrosiva. Surpreso e Curioso, fui em busca de referências que
tratassem da relação da montagem com a poesia, no contexto dadaísta. No texto "Para fazer um poema
dadaísta", Tristan Tzara, através da metalinguagem, faz o eu-lírico, dar as dicas:
(...)Escolha no jornal um artigo do tamanho
que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com
atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite
suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie
conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se
parecerá com você. E eis um escritor
infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que
incompreendido do público.(...)
(TZARA, 2009)
Essas linhas, já são, sem dúvida, uma rica inspiração para os arte-educadores de plantão. Imagine
"Montar", um poema dadaísta, com o pessoal lá do ensino médio? De cara, já dava um bom jogo teatral ou
dramático, com os alunos. Texto
coletivo, poesia montada, etc. E
daí, trazer à pauta, o tão polêmico e emblemático urinol invertido, ou "Fonte, como
queiram chamar, símbolo mor de Duchamp
e da arte Dadá, e discutir o conceito de
sua proposta, que pretendia, através de
temas absurdos e, à primeira vista, sem lógica, fazer uma ridicularização do tradicionalismo, crítica
ao capitalismo e ao consumismo.
Expressão por meio de sons, fotografias, objetos do cotidiano
modificados, poema-piada e paródia. Tudo muito incômodo e dinâmico.
Dinâmico...dinamismo. Esse é o elo entre as
obras de Hausmann e Vertov. A idéia de
montagem que eles propuseram evidencia claramente esse aspecto. As obras
transmitem, cada uma à sua maneira, as mesmas sensações: Caos e desordem.
Hausmann, de forma estática em sua fotomontagem. Vertov, no ritmo frenético de
seu filme. É nítido o desejo de transgredir e criticar, de certo modo, a
sociedade, abalada e devastada pelo pós-guerra, e com novos valores entrando em
cena, como o ritmo acelerado da modernidade. Essa arte, defendida por Vertov e
Hausmann, se firma como um grito contra a própria arte, chamando a atenção de
seus realizadores, para seu poder de transformação, sua capacidade de
influenciar e transformar pensamentos e atitudes.
Momento decisivo, quebradiço, fragmentado,
como em um quebra-cabeça, onde no final se consegue um todo coerente, ou
não...como diria Caetano.
Muito bem. Então agora, fugindo um pouco
da teoria, vamos ao que de fato
interessa, o processo prático. Vejam
só que
belezinha de montagens nestas referências que seguem. Especialmente
lúdicas, para ilustrar meu clima de nostalgia. Assumo, que sou suspeito para
falar dos dois casos, pois na minha opinião,
considero-os incrivelmente criativos. Talvez não sejam revolucionários, do ponto de vista artístico, mas a mim, confesso, exercem total
poder de sedução.
As esculturas feitas de LEGO conseguem, de forma
divertida, traduzir bem o ideal da
Montagem, que remete frequentemente à
idéia de elementos que podem ser
desmontados e remontados inúmeras vezes, constituindo uma estrutura aberta, transformável, adaptável a diferentes
situações.
O video,
feito recentemente para a campanha publicitária de um shopping londrino,
que mostra de forma bem descontraída as
variações de moda , dança e música nos últimos 100 anos, risos, diga-se,pasmen,
em 100 segundos, também evidencia a essência da montagem, através da justaposição de imagens opostas, que fazem
surgir um sentido de complementalidade
entre elas, uma metáfora do próprio ritmo da vida.
P.S.: Para mais imagens das esculturas de
lego:

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