Pós-graduação em Artes Visuais - Cultura
e Criação
Senac - Centro Nacional de Educação a
Distância
Fórum 5 -Bloco Distorção
Se a arte moderna pôs em crise as formas
tradicionais de representação da figura, isso aconteceu porque tais formas já
não correspondiam à experiência e ao pensamento do homem que vivia a
modernidade dos séculos XIX e XX – o modelo clássico havia deixado de ser capaz
de expressar as novas relações desse homem com seu ambiente e seu tempo.
Lembre-se das obras que vimos até aqui, não somente neste bloco mas também nos
anteriores, e reflita sobre a representação da figura nos diversos movimentos
artísticos. Tome em especial as transformações ocorridas entre o
impressionismo, o expressionismo e o cubismo, e debata: o que o desenvolvimento
da relação figura/fundo ao longo desses três movimentos poderia nos revelar
sobre a relação homem/mundo na modernidade?
Resposta:
Se observarmos atentamente, perceberemos que
as raízes da arte moderna, estão no Impressionismo. No final do século 19, alguns jovens
artistas, insatisfeitos com a pintura acadêmica, ávidos por novas
possibilidades artísticas, inauguraram um novo estilo que viria influenciar, toda uma geração
subsequente. Na verdade, o advento da
fotografia e o desenvolvimento industrial e tecnológico, foram decisivos para que o artista repensasse seu momento e
modificasse sua arte. Uma das principais
características do movimento foi captar o aspecto transitório da vida e do
mundo. Os impressionistas empregaram em suas pinturas o caráter inacabado e
houve uma completa mudança de valores. A
fotografia é emblemática neste contexto, pois
eles começam a pintar mais o que SENTEM do que o que vêem. Saem dos ateliês
e vão pintar ao ar livre. Há uma maior liberdade para captar
sem regras as impressões do momento, com
pinceladas mais amplas, figuras ausentes de
contornos, harmonia sem preto,
com poucos detalhes, em uma mistura ótica de cor, luz e sombra.
Deste modo, eles renunciaram à
visão racional que se tinha das formas, e a substituíram por um método em que o
imaginário preponderava, permitindo a análise, como se a obra estivesse em aberto. O impressionismo não procurava reproduzir a
realidade, mas apenas sugeri-la. É de
fato, uma fase revolucionária na arte,
até porque de modo irônico, esses artistas foram rejeitados inicialmente, face à incompreensão de suas obras. Manet, Monet, Renoir, Degas, Toulouse
Lautrec, representaram bem essa corrente
artística, talvez a mais rica, completa e inovadora da história da arte.
Se por sua vez, os quadros impressionistas,
com sua temática tão própria 'a la Belle
Époque', conseguem transmitir uma
sensação agradável de um instante passageiro e fulgaz, no EXpressionismo, em
oposição, há de se lidar com o registro
e a denúncia da dor humana. Talvez seja incoerente tratá-lo como um estilo, se
observarmos que de fato ele sempre existiu, pois desde os tempos mais remotos, o homem faz expressionismo,
embora inconsciente dessa denominação.
Isto está implícito, por exemplo, nas representações da era primitiva, em que o
homem deformava por necessidade própria, a imagem de animais e objetos do
período. Contudo, surge como corrente
artística, no início do século 20 e vai se contrapor aos padrões estéticos de
beleza da Antiguidade Clássica, imbuído de dois aspectos muito peculiares, o
técnico e o psicológico, onde podemos destacar, no técnico, a acentuação forte e escura dos contornos, ao
redor das figuras, denotando sempre
um contraste violento. Já no aspecto psicológico, a essência é a de
uma arte quase que de instinto, com pinceladas muito nervosas e rápidas, o
oposto da pincelada delicada do impressionista. Os expressionistas promovem o
interesse pelo drama individual, oposto
do impressionismo que só retratava o belo. Há também um certo tipo de Protesto contra tudo. Tudo é exagerado e distorcido para retratar
"aquela emoção, aquela dor". É a própria deformação da figura. Quando
o artista deforma a figura, ele obedece a um desejo de fazer um apelo à emoção
com muito vigor, até mesmo na alegria. Um assunto expressionista é sempre
distorcido, amargo, dolorido. O expressionismo não é belo no sentido da
estética. Uma caricatura, por exemplo, pode ser considerada expressionista, porque distorce para representar
algo interessante e tem humor. Uma obra expressionista é um golpe para quem a
vê. Mexe com a cabeça, com as emoções. A corrente expressionista tem, portanto,
uma forte distorção, mas com um estado
mental muito próprio, a ser colocado na
obra.
Se o Expressionista é a emoção e o Impressionista
a sensação, o que virá caracterizar o cubista, será o conceitual e o
racional. Aarte cubista é muito
elaborada e se vale mais da memória do apreciador, do que dos objetos concretamente vistos pelos
olhos. O pintor cubista vai pegar um objeto e quebrá-lo em partes. A minha
memória, é que vai ter que olhar essas partes e montar novamente o objeto.
Enquanto no Impressionismo o espectador utiliza o que sente para interpretar a
obra, na pintura cubista ele terá de usar o raciocínio para entendê-la. O
Cubismo vai ser uma reação contra a afirmação de que o mundo que nos cerca é
acadêmico. Os pintores Cubistas como Picasso, Leger, Braque, Juan Griss, entre
outros, foram muito apoiados na imprensa pelos escritores que publicavam sobre
essa nova arte tão intelectual, tida como uma nova forma de ver e representar o
mundo.
Escolhi, em especial, quatro referências que
exemplificam o conceito destas correntes
artísticas. A escolha das obras, baseou-se na sua representatividade para os
estilos em questão, e também na
existência de uma certa afinidade com minha área de pesquisa, a moda e o
figurino. há ainda, um aspecto comum em
todas elas, que é o da utilização da figura humana, em suas composições.
A tela de Seurat, é uma obra muito
particular, desenvolvida através do pontilhismo, técnica que utiliza minúsculos pontos de tinta, que criam a
impressão de um todo, se vista a partir
de uma certa distância. A obra atende ao ideal impressionista, pois registra um instante efêmero, ao
retratar uma cena bucólica e típica da Belle Époque, ao ar livre, e que exalta a luminosidade. Uma poesia
visual que, além disso, traz ainda a referência de trajes do vestuário desta
época. Em consonância com o mesmo
período, a pintura de Toulouse-Lautrec, encanta e seduz, ao retratar o contexto
da vida boêmia parisiense, com seu aspecto bem-humorado e algumas vezes, até
caricato. Toulouse Lautrec é quase
expressionista por deformar as bailarinas de kan-kan. Tem uma ponte entre o
impressionismo e expressionismo. Sua pintura é dinâmica como a fotografia de
seu tempo, e tem uma luz forte, bem
característica da noite.
Picasso buscou inspiração na cultura africana
para sua obra " Les Demoiselles d'Avignon". Deu um novo sentido às
artes e transformou seu tempo, ao
exibir uma pintura de simplificações
violentas e elementares. Esta obra expressa
a sua revolta contra toda a arte Ocidental, oriunda da Renascença e que
baseava-se na representação da beleza da mulher. É considerada também a obra
precursora do movimento cubista.
Picasso influenciou muitos artistas
contemporâneos, entre eles, o brasileiro Cândido Portinari, que desenvolveu em
suas obras, um forte caráter expressionista.
Portinari conseguiu retratar em suas obras o dia a dia do brasileiro
comum, procurando denunciar os problemas sociais do nosso país. No quadro Os
Retirantes, produzido em 1944, Portinari expõe o sofrimento dos migrantes,
representados por pessoas magérrimas e com expressões que transmitem
sentimentos de fome e miséria.
Referências:
1) Salão na Rue des Moulins, 1894 - Henri de
Toulouse-Lautrec
2) Tarde de Domingo na Île de laGrand Jette,
1894-96 - georges seurat
3) Les Demoiselles D'Avignon, 1907 - Pablo
Picasso
4) Retirantes, 1944 - cândido Portinari
Thiago Cerejeira
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