Sunday, 23 September 2012

Fórum 5 - Bloco Distorção



Pós-graduação em Artes Visuais - Cultura e Criação
Senac - Centro Nacional de Educação a Distância



Fórum 5 -Bloco Distorção

Se a arte moderna pôs em crise as formas tradicionais de representação da figura, isso aconteceu porque tais formas já não correspondiam à experiência e ao pensamento do homem que vivia a modernidade dos séculos XIX e XX – o modelo clássico havia deixado de ser capaz de expressar as novas relações desse homem com seu ambiente e seu tempo. Lembre-se das obras que vimos até aqui, não somente neste bloco mas também nos anteriores, e reflita sobre a representação da figura nos diversos movimentos artísticos. Tome em especial as transformações ocorridas entre o impressionismo, o expressionismo e o cubismo, e debata: o que o desenvolvimento da relação figura/fundo ao longo desses três movimentos poderia nos revelar sobre a relação homem/mundo na modernidade?

Resposta:


Se observarmos atentamente, perceberemos que as raízes da arte moderna, estão no Impressionismo.  No final do século 19, alguns jovens artistas, insatisfeitos com a pintura acadêmica, ávidos por novas possibilidades artísticas, inauguraram um novo estilo que  viria influenciar, toda uma geração subsequente.  Na verdade, o advento da fotografia e o desenvolvimento  industrial  e tecnológico, foram decisivos para que  o artista repensasse seu momento e modificasse sua arte.  Uma das principais características do movimento foi captar o aspecto transitório da vida e do mundo. Os impressionistas empregaram em suas pinturas o caráter inacabado e houve uma completa mudança de valores.  A fotografia é emblemática neste contexto, pois  eles começam a pintar mais o que SENTEM do que o que vêem. Saem dos ateliês e vão pintar ao ar livre. Há uma maior liberdade para captar
sem regras as impressões do momento, com pinceladas mais amplas, figuras ausentes de  contornos, harmonia sem preto,  com poucos detalhes, em uma mistura ótica de cor, luz e  sombra.  Deste modo,  eles renunciaram à visão racional que se tinha das formas, e a substituíram por um método em que o imaginário preponderava, permitindo a análise, como se  a obra estivesse em aberto.  O impressionismo não procurava reproduzir a realidade, mas apenas sugeri-la.  É de fato,  uma fase revolucionária na arte, até porque de modo irônico, esses artistas foram rejeitados inicialmente,   face à incompreensão de suas obras.  Manet, Monet, Renoir, Degas, Toulouse Lautrec,  representaram bem essa corrente artística, talvez a mais rica, completa e inovadora da história da arte.

Se por sua vez, os quadros impressionistas, com sua temática tão  própria 'a la Belle Époque',  conseguem transmitir uma sensação agradável de um instante passageiro e fulgaz, no EXpressionismo, em oposição,  há de se lidar com o registro e a denúncia da dor humana. Talvez seja incoerente tratá-lo como um estilo, se observarmos que de fato ele sempre existiu, pois desde os tempos  mais remotos, o homem faz expressionismo, embora inconsciente dessa  denominação. Isto está implícito, por exemplo, nas representações da era primitiva, em que o homem deformava por necessidade própria, a imagem de animais e objetos do período.  Contudo, surge como corrente artística, no início do século 20 e vai se contrapor aos padrões estéticos de beleza da Antiguidade Clássica, imbuído de dois aspectos muito peculiares, o técnico e o psicológico, onde podemos destacar, no técnico,  a acentuação forte e escura dos contornos, ao redor das figuras,  denotando sempre um  contraste violento.  Já no aspecto psicológico, a essência é a de uma arte quase  que de instinto,  com pinceladas muito nervosas e rápidas, o oposto da pincelada delicada do impressionista. Os expressionistas promovem o interesse pelo   drama individual, oposto do impressionismo que só retratava o belo. Há também um certo tipo de  Protesto contra tudo.  Tudo é exagerado e distorcido para retratar "aquela emoção, aquela dor". É a própria deformação da figura. Quando o artista deforma a figura, ele obedece a um desejo de fazer um apelo à emoção com muito vigor, até mesmo na alegria. Um assunto expressionista é sempre distorcido, amargo, dolorido. O expressionismo não é belo no sentido da estética. Uma caricatura, por exemplo, pode ser considerada  expressionista, porque distorce para representar algo interessante e tem humor. Uma obra expressionista é um golpe para quem a vê. Mexe com a cabeça, com as emoções. A corrente expressionista tem, portanto, uma forte distorção, mas com um  estado mental  muito próprio, a ser colocado na obra.

Se o Expressionista é a emoção e o Impressionista a sensação, o que virá caracterizar o cubista, será o conceitual e o racional.  Aarte cubista é muito elaborada e se vale mais da memória do apreciador,  do que dos objetos concretamente vistos pelos olhos. O pintor cubista vai pegar um objeto e quebrá-lo em partes. A minha memória, é que vai ter que olhar essas partes e montar novamente o objeto. Enquanto no Impressionismo o espectador utiliza o que sente para interpretar a obra, na pintura cubista ele terá de usar o raciocínio para entendê-la.    O Cubismo vai ser uma reação contra a afirmação de que o mundo que nos cerca é acadêmico. Os pintores Cubistas como Picasso, Leger, Braque, Juan Griss, entre outros, foram muito apoiados na imprensa pelos escritores que publicavam sobre essa nova arte tão intelectual, tida como uma nova forma de ver e representar o mundo.

Escolhi, em especial, quatro referências que exemplificam o conceito destas  correntes artísticas. A escolha das obras, baseou-se na sua representatividade para os estilos em questão, e também na  existência de uma certa afinidade com minha área de pesquisa, a moda e o figurino.  há ainda, um aspecto comum em todas elas, que é o da utilização da figura humana, em suas composições.

A tela de Seurat, é uma obra muito particular, desenvolvida através do pontilhismo,  técnica que utiliza   minúsculos pontos de tinta, que criam a impressão de um todo, se vista  a partir de uma certa distância. A obra atende ao ideal impressionista,  pois registra um instante efêmero, ao retratar uma cena bucólica e típica da Belle Époque, ao ar livre,  e que exalta a luminosidade. Uma poesia visual que, além disso, traz ainda a referência de trajes do vestuário desta época.  Em consonância com o mesmo período, a pintura de Toulouse-Lautrec, encanta e seduz, ao retratar o contexto da vida boêmia parisiense, com seu aspecto bem-humorado e algumas vezes, até caricato.  Toulouse Lautrec é quase expressionista por deformar as bailarinas de kan-kan. Tem uma ponte entre o impressionismo e expressionismo. Sua pintura é dinâmica como a fotografia de seu tempo, e  tem uma luz forte, bem característica da noite.

Picasso buscou inspiração na cultura africana para sua obra " Les Demoiselles d'Avignon". Deu um novo sentido às artes e transformou seu tempo,  ao exibir   uma pintura de simplificações violentas e elementares. Esta obra expressa  a sua revolta contra toda a arte Ocidental, oriunda da Renascença e que baseava-se na representação da beleza da mulher. É considerada também a obra precursora do movimento cubista.

Picasso influenciou muitos artistas contemporâneos, entre eles, o brasileiro Cândido Portinari, que desenvolveu em suas obras, um forte caráter expressionista.  Portinari conseguiu retratar em suas obras o dia a dia do brasileiro comum, procurando denunciar os problemas sociais do nosso país. No quadro Os Retirantes, produzido em 1944, Portinari expõe o sofrimento dos migrantes, representados por pessoas magérrimas e com expressões que transmitem sentimentos de fome e miséria.

Referências:

1) Salão na Rue des Moulins, 1894 - Henri de Toulouse-Lautrec

2) Tarde de Domingo na Île de laGrand Jette, 1894-96 - georges seurat

3) Les Demoiselles D'Avignon, 1907 - Pablo Picasso

4) Retirantes, 1944 - cândido Portinari






Thiago Cerejeira

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