Pós-graduação
em Artes Visuais - Cultura e Criação
Senac -
Centro Nacional de Educação a Distância
Atividade
Prática 5 - Bloco Distorção
"Moda?
Autofágica? Eu?"
A
proposta para realização da atividade prática 5, referente ao bloco temático
Distorção, tomou como base o conceito da alternativa abaixo.
a) “A distorção pode expressar uma visão subjetiva, sentimentos e
experiências particulares com relação ao mundo. Crie uma imagem a partir da
figura humana, interpretando-a plasticamente segundo a sua própria visão."
Como
o eixo central da questão contempla a idéia da figura humana, procurou-se por
referências que pudessem fundamentar esse quesito e que, particularmente,
tivessem alguma relação com o campo da moda e figurino. Neste sentido uma das
influências mais fortes a ser consideradas e que surgiu como elemento
inspirador, foi a da nudez feminina, abordada em algumas obras do bloco
temático como a fotografia de Kertész e a escultura de Giacometti, que remetem
diretamente à arte da estatuária grega, ainda que subvertidas no seu conceito.
A
escultura grega fez do corpo, na plenitude de sua nudez, um símbolo da
excelência física, intelectual e espiritual do ser humano, criando uma relação
histórica entre beleza e razão. A arte
moderna, e mais especificamente a pintura cubista, apesar de rejeitar a
tradição pictórica, demonstra um interesse recorrente, de inúmeros artistas, em
interpretar o tema clássico do nu feminino,
onde a representação
plástica-figurativa, sofre distorções em vários sentidos.
Em uma
esfera mais conceitual, a obra "Antropofagia", de Tarsila do Amaral,
se torna interessante para a caracterização da moda como uma estrutura de
caráter "autofágico", como define Palomino (2002):
"[...]O conceito de "estar na moda" se
auto-explica e confunde. Tratar de moda implica lidar com elementos os mais
complexos, especialmente quando combinados. Entrando nesse assunto, tangemos
valores como imagem, auto-imagem, auto-estima, política, sexo, gender-bending
(troca de sexos, ou o velho e bom masculino/feminino), estética, padrões de
beleza e inovações tecnológicas, além de um caleidoscópio de outros temas:
desde condições climáticas, bailes, festas, restaurantes ou uniformes até
cores (e a ausência delas), modelos, top
models, supermodels ou gente "normal", mídia, fotografia de moda,
moda de rua, tribos (e a ausência delas); música e diversão, mas também crise e
recessão, criatividade e talento. Dinheiro também. E vaidade, competitividade,
ego, modismos e atemporalidades, história e futuro, excessos, radicalismos e básicos. Não necessariamente nessa ordem,
claro. Aliás, muito pelo contrário. Na moda, tempos de luxo são substituídos
por tempos de contenção, e assim por diante. Autofágica, quando achamos que
estamos entendendo algo, tudo vira de cabeça para baixo de novo e de novo. Nada
é eterno. O que não quer dizer que algumas imagens, pessoas ou looks não durem
para sempre[...]"
Antropofagia,
1929 - Tarsila do Amaral
Etimologicamente,
a palavra antropofagia refere-se ao hábito primitivo de comer a carne dos
inimigos, como modo simbólico de se apropriar de sua força. Assim, é possível
estabelecer uma analogia entre os dois contextos. A obra de Tarsila, que faz
referência ao conceito da antropofagia modernista, com propósito de deglutir a
cultura estrangeira e adaptá-la à realidade brasileira, e o conceito da moda
autofágica, ou seja, que engole a si mesma. A moda precisa se matar para
manter-se viva. Por ter esta natureza de caráter autodestruidor, enfatiza-se a
idéia de que "basta estar na moda para deixar de estar na moda".
Escolhi
como base, para a criação de uma imagem que melhor contextualizasse essas
idéias, duas referências, de períodos distintos, mas que estabelecem a proposta
de uma metáfora de um processo visual, tal como pensavam os modernistas do
Manifesto Antropófago, que estimulava uma apropriação das linguagens artísticas
européias, para usá-las em favor próprio. Partindo da referência antropofágica,
optei por outra obra emblemática de Tarsila do Amaral, o "Abaporu",
cuja denominação vem dos termos em tupi, aba (homem), pora (gente) e ú (comer),
significando "homem que come gente".
Abaporu,
1928 - Tarsila do Amaral
A
segunda referência escolhida, mais contemporânea, foi a de um ensaio
fotográfico que estampou a capa da revista Vogue Homme Japão, com a cantora pop
Lady Gaga, usando um biquíni feito de carne crua. O renomado fotógrafo Terry
Richardson, conhecido por explorar a sensualidade em seus trabalhos, foi o
responsável pelo ensaio inusitado, que recebeu um nome bem sugestivo: "A Verdade
Nua". Segundo a própria cantora o modelo não representa uma ofensa,
mas um modo de chamar a atenção para
questões como o preconceito, por exemplo, e afirma:
"Se nós não nos levantarmos pelo
que nós acreditamos e se não lutarmos pelos nossos direitos o quanto antes, nós
vamos ter os mesmos direitos que uma carne nos seus próprios ossos. E eu não
sou um pedaço de carne"
Lady
Gaga para capa da revista Vogue Homme Japão, 2010 - foto de Terry Richardson
A
junção conceitual dessas duas obras citadas deu origem à imagem que segue, e
que utilizo como resposta à solicitação desta atividade. Ela questiona sobre o
real sentido do corpo, diante do preconceito concreto para com a moda, em parte
por causa do seu caráter efêmero, com suas periódicas mudanças, visto que seu
meio é a roupa) e porque ela tem a ver
com a aparência (supostamente privilegiando o superficial em detrimento do
intelectual: forma versus conteúdo). Muitas vezes, sendo vista também como algo feito para
iludir e enganar, para ajudar no disfarce de ser alguém que, na verdade, não se
é. Ficam implícitas portanto, as relações entre o sentido da carne enquanto
matéria e essência, da pele propriamente dita, e da segunda pele, então
representada nesse contexto pela roupa ou... ausência dela!
Ilustração
"Moda? Autofágica? Eu?”, 2012 - Thiago Cerejeira
Referências:
PALOMINO, Érika. Amoda. São Paulo:
Publifolha, 2002.




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