Pós-graduação em
Artes Visuais - Cultura e Criação
Senac - Centro
Nacional de Educação a Distância
Questão Individual 3
Texto:
Desconstruindo e
Subvertendo: Novas possibilidades no Design Contemporâneo
por Thiago Cerejeira
A década de 1960 é de fato marcante para a
história do design, pois foi neste período, que aconteceram suas mudanças mais
revolucionárias. Os designers romperam com os modelos vigentes e apostaram em
alternativas inovadoras para conceber e reinterpretar modelos já existentes.
Havia uma busca pela desordem e desconstrução de valores e paradigmas, que
renovou formatos e atribuiu novas experimentações de linguagens visuais e
conceituais, motivadas também pelos avanços tecnológicos e movimentos
artísticos do período, como a Pop Art, que ampliaram as possibilidades de
criação gráfica, tornando os processos e os produtos cada vez mais dinâmicos e
modernos.
Um precursor da revolução pop no mobiliário
cool da época, o dinamarquês Verner Panton, é sinônimo de vanguarda e foi
expert, em criar um mobiliário lúdico e novo, em um período que o mundo
atravessava a era pré-tecnológica. O
designer utilizou, como matéria prima para seu trabalho, materiais como o
plástico, o poliuretano e a espuma. Queria quebrar a frieza e rigidez do ferro
e tornar o mobiliário mais engraçado. Para ele, era inconcebível, sentar em um
sofá bege e quadrado, por exemplo.
Algumas de suas peças, como a conhecida Cadeira Panton, desafiaram a lei
da gravidade e ainda hoje causam admiração e espanto. A Cadeira Panton, foi a
primeira cadeira produzida em plástico, sendo ela uma peça inteira, contínua.
Unidade em forma e material. Verner
Panton rompeu com a tradição de linhas simples, puras e elegantes em móveis de
madeira, e experimentou com materiais coloridos e novos. Ele era um artesão que
usou o plástico e o metal para criar objetos com um olhar mais internacional. É
o exemplo perfeito de se estar no local exato, na época exata.
Cadeira Panton, 1960
- Verner Panton
A liberdade da cadeira Panton representava
justamente o que os anos 60 pregavam: novos processos, de ordem econômica e
cultural, com objetos voltados para o consumo
rápido, produção em larga escala e pouca durabilidade, que por sua vez, alteraram
profundamente as formas de produções artísticas e gráficas, servindo
de plano contextual para novas
interpretações de outros designers, a exemplo dos italianos Gaetano Pesce e Alessandro Mendini.
Pesce lançou, em 1969, a Coleção "UP
Series", composta por 7 cadeiras para diferentes usos, crianças, adultos e casais. As poltronas possuíam
design orgânico, com formatos lúdicos e coloridos, apelo simples e confortável.
Revolucionou, não só no material utilizado, espuma de poliuretano, mas também
na embalagem dos produtos.
As peças eram
comprimidas à vácuo e envolvidas em envelopes de PVC. Quando a
embalagem era aberta, a cadeira se expandia para o tamanho
natural. Essa concepção inovadora de Pesce, com dinamismo e flexibilidade,
refletia a tendência pop, que invadia a arte e o design, contrariando os
padrões do período. Aqui fica evidente
sua tentativa de desconstrução, à medida que suas obras retratam a intenção do
artista em reformular em suas criações as formas básicas e convencionadas de
alguns modelos vigentes na época.
Poltronas "Up
series", 1969 - Gaetano Pesce
Mendini, com sua experiência de
"Re-design", promoveu uma apropriação de obras de outros artistas,
reformulando-as a partir da inserção de novos materiais, cores e formas, em
contraposição à simetria e estética das originais. Reformulou as cadeiras
Thonet e Wassily, criando uma espécie de caricatura das mesmas. A
Thonet,ganhou, em sua estrutura,novos elementos, metálicos, coloridos e
assimétricos. Já na Wassily, a obra foi reclassificada deformando as linhas
retas das faixas de couro liso e substituindo-as por manchas totalmente
irregulares, desprezando assim, a sua simetria e rigidez estrutural. É aí, onde reside, portanto, seu processo de
desconstrução. Ele subverte o conceito original, estimulando novas
possibilidades de criação, e, ironicamente, ainda consegue a façanha de
transformar estas cadeiras em verdadeiras obras de arte.
Re-design das
cadeiras Thonet e Wassili, 1973-79 - Alessandro Mendini
Outro exemplo, que pode ser trazido a esse
contexto, é o dos irmãos brasileiros,
Fernando e Humberto Campana, notavelmente reconhecidos no cenário do
design internacional, e que a partir da década de 80 passaram a produzir peças
de mobiliário, diferenciadas, experimentais e com forte apelo conceitual,
que agradaram à críticos e estudiosos de
vários países. Diversas de suas criações inovaram ao romper com temas e
materiais clássicos do design, apostando em peças, com simplicidade e, ao mesmo tempo extrema
sofisticação, feitas com materiais comuns, encontrados em todos os lugares. Que
assim o digam suas famosas cadeiras: as" Des-confortáveis" feitas em
ferro; as cadeiras vermelha e azul Edra, com
ferro cromado e fios trançados de algodão tingido; ou ainda suas poltronas
e outros itens de mobiliário de formas inusitadas.
Cadeira Cone, 1997 - Irmãos Campana
Cadeira Azul Edra,
1998 - Irmãos Campana
Cadeira Vermelha
Edra, 1998 - Irmãos Campana
Poltrona Bola, 2009 -
Irmãos Campana
Poltrona Jacaré, 2009
- Irmãos Campana
Sofá Cipria, 2010 -
Irmãos Campana
Um aspecto curioso do design contemporâneo, é
a sua versatilidade, que extrapola limites e convenções. Interessante ressaltar
as incursões de Gaetano Pesce e dos Irmãos
Campana, mais recentemente, na
moda, com criações para a marca Melissa,
de sapatilhas com formato incomum, e de design inovador e alternativo,
demonstrando bem esse diálogo com a interatividade contemporânea e, utilizando
para tal, a desconstrução e subversão de formas e valores, em uma busca pelo
reposicionamento estético, que resultem em novas linguagens visuais.
Sapatilha vazada,
para Melissa, Anos 2000 - Irmãos Campana
Referências:
CEREJEIRA, T. L. T. Desconstruindo e
Subvertendo: Novas possibilidades no Design Contemporâneo. 2012.
Arquivo em PDF disponível para download em:
http://www.4shared.com/office/ow7DykVk/qti_3_Desconstruindo_e_Subvert.html





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