Pós-graduação em Artes Visuais - Cultura
e Criação
Senac - Centro Nacional de Educação a Distância
Atividade Prática 3 - Bloco Fragmentação
“A Fragmentação como Recurso para a Criação
de Artes Gráficas na Moda”
"a) Fragmentar serve ao
propósito de análise visual. Crie uma imagem a partir da decomposição de algo
que previamente tenha sido percebido como um todo".
Atendendo
ao pressuposto desta atividade prática, decidi por utilizar a alternativa
acima, na tentativa de abordar a técnica que utiliza a fragmentação, como
recurso para a criação de artes
gráficas, no contexto da indústria têxtil e, mais especificamente, na
composição do processo de serigrafia e silk-screen, de estampas, em artigos do
vestuário.
Fundamentação Teórica
A
proposta de estudos do bloco fragmentação, me oportunizou esclarecer alguns
conceitos acerca desse eixo temático. Neste sentido as obras que mais me
influenciaram e que escolhi como referência para o desenvolvimento deste
exercício, foram a pintura de Roy
Lichtenstein e a colagem de Mimmo Rotella.
Cinemascope,
1962 - Mimmo Rotella
MMaybe (A Girl's Picture),
1965 - Roy Lichtenstein
O
que mais chama a atenção nessas obras é que elas saem do plano conceitual e
utilizam a fragmentação dentro de um processo prático. Há uma apropriação
poética, de imagens difundidas nos meios de comunicação, que tem sua unidade fragmentada, para
dar um novo sentido à sua visualidade, oferecendo
assim a possibilidade de uma nova experiência estética.
Esta
característica, de imagens com caráter
artificial, vazio e fragmentário, é uma das marcas da Pop Art, movimento que
procurava registrar com ironia a visão do dia a dia das cidades americanas e da sociedade de
consumo, tentando romper as barreiras entre a arte e a vida comum, como o
retrato de uma geração que aceitava o processo de produção em massa.
Os
ídolos e produtos disputados pelos consumidores passaram a inspirar o processo artístico, ao contrário de outros
movimentos que retratavam, à sua
maneira, paisagens ou figuras humanas. Dessa forma, entre os principais artistas que influenciam
a moda estão Roy Lichtenstein e suas pinturas estilizadas de histórias em quadrinhos, Andy Warhol, que via
arte nos produtos de consumo em massa, Jasper Johns e suas
bandeiras americanas e Robert Indiana e a série "Love".
Artes gráficas e Moda
A
moda e as artes gráficas sempre tiveram uma relação muito próxima, e
suascomposições estéticas, muito
influentes, acabaram estampadas também na maneira de vestir.
Um
dos processos mais utilizados na moda, que utiliza as artes gráficas como
recurso criativo, é a serigrafia ou silk-screen. A técnica consiste basicamente
em um método de gravação, que utiliza o
princípio químico da fotosensibilidade, podendo ser feita de forma mecânica por
pessoas, ou de forma automatizada por máquinas.
O
termo serigrafia é creditado a Anthony Velonis, que influenciado por Carl
Zigrosser, crítico, editor e nos anos 1940, curador de gravuras do Philadelphia
Museum of Art, propôs a palavra serigraph (em inglês), do grego sericos (seda),
e graphos (escrever), para modificar os aspectos comerciais associados ao
processo, distinguindo o trabalho de criação realizado por um artista dos
trabalhos destinados ao uso comercial, industrial ou puramente reprodutivo.
Alguns
artistas iniciaram um importante trabalho de transformar um meio mecânico,
cujas qualidades gráficas se limitavam às impressões comerciais, numa importante ferramenta para
desenvolver seus estilos pessoais. Neste contexto podemos citar, a partir dos
anos de 1950, incluindo os
expressionistas abstratos e os action painters , como Jackson Pollock, até Marcel Duchamp, que não era exatamente um
artista-gravador, mas nos deixou um
auto-retrato de 1959, uma serigrafia colorida que está no MoMA, em Nova York.
Poster after Self-Portrait
in Profile, 1959 - Marcel Duchamp
Screenprint, composition (irreg.): 7 15/16 x 7
15/16" (20.1 x 20.1 cm); sheet: 25 9/16 x1913/16" (65 x 50.4 cm). Gift of Lang Charities, Inc. © 2012 Artists
As
barreiras e definições estabelecidas que tratavam a serigrafia como uma
"manifestação gráfica menor", só foram eliminadas no início dos anos 60. O grande responsável por
isso foi o processo fotográfico utilizado através da serigrafia e novos
conceitos e movimentos artísticos, como aPop Art e aOp Art, além do avanço
tecnológico. Foram ressaltados, entre outros, alguns pontos básicos da técnica,
como a sua extrema adaptabilidade que
permite a aplicação sobre qualquer
superfície, inclusive tridimensional, muito conveniente para certas tendências artísticas,
e suas especificidades gráficas
próprias, ou seja características gráficas que apenas a serigrafia pode
proporcionar.
Estudo
de caso:T-shirt Mao
A
camiseta "Mao", foi parte integrante da Coleção Inverno 2008, de
t-shirts masculinas, da marca Equipaggio. A temática abordava a cultura
chinesa, e fazia uma homenagem ao país, que sediaria as Olimpíadas de 2008.
A
coleção inspirou-se nos principais aspectos culturais da China: suas tradições milenares, símbolos e
crenças. Vale ressaltar que o
diferencial damarca, teria de estar focado nas estampas e silks, já que a
proposta era desenvolvida para um público jovem, com faixa etária entre 15 e 25
anos, oriundos das classes C e B.
Uma
das referências mais citadas e
emblemáticas, que apareceram durante o período de pesquisas e
planejamento, foi a do fundador da
República Popular da China e um dos mais proeminentes teóricos do comunismo do
século 20, Mao Tsé-Tung , que promoveu a
Revolução Cultural que perseguiu
intelectuais e velhas lideranças.
A
grande questão era como trabalhar a referência da imagem de Mao em uma estanpa,
devido à sua aparência, sempre tão sisuda e séria, encontrada na maioria das
fotografias selecionadas. A idéia era dar um ar mais descontraído e moderno à
menção do líder revolucionário. A estratégia encontrada para atingir esse
objetivo foi, primeiramente, utilizar uma referência de fotografia de um Mao
Tsé-Tung mais jovem e, em seguida mesclar elementos com um ar
mais"pop", para quebrar a essência rígida do chefe de estado.
A
imagem escolhida para desenvolver a camiseta Mao, foi a de uma fotografia, em
que o líder aparece em sua fase jovem, fardado e com um olhar contemplativo, em
comparação às famosas e tão recorrentes imagens, de outro guerrilheiro que marcou o século XX, Che
Guevara. A imagem de Mao recebeu um tratamento especial, de maneira que mesmo
vetorizada, manteve sua expressão contemplativa. Para complementar, foram
utilizados recursos gráficos, como "splashs" de tinta, círculos , uma
frase simbólica e uma máscara, que seccionou a imagem em colunas, análogo a um
efeito gradeado.
Dessa
forma, pode-se dizer que a estampa, adquiriu um caráter "pop" e
fragmentado, com intenção similar à obra
de Lichtenstein, ao
selecionar
e ampliar, apenas uma parte de uma
história bem mais longa, e que assim não poderia ser associada diretamente, mas
subentendida. Assim, formas complexas
foram simplificadas em busca de uma síntese plástica, que favoreceu a
comunicação visual.
Fotografia
de Referência de Mao Tsé-Tung, e detalhe da estampa produzida:
"Camiseta
Mao" Imagem de Lookbook - Coleção Equipaggio Inverno 2008

,+1965+-+Roy+Lichtenstein.png)




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