Saturday, 20 October 2012

Atividade Prática 3 - Bloco Fragmentação: "A Fragmentação como Recurso para a Criação de Artes Gráficas na Moda"



  Pós-graduação em Artes Visuais - Cultura e Criação 
Senac - Centro Nacional de Educação a Distância


Atividade Prática 3 - Bloco Fragmentação



“A Fragmentação como Recurso para a Criação de Artes Gráficas na Moda”

"a) Fragmentar serve ao propósito de análise visual. Crie uma imagem a partir da decomposição de algo que previamente tenha sido percebido como um todo".

Atendendo ao pressuposto desta atividade prática, decidi por utilizar a alternativa acima, na tentativa de abordar a técnica que utiliza a fragmentação, como recurso  para a criação de artes gráficas, no contexto da indústria têxtil e, mais especificamente, na composição do processo de serigrafia e silk-screen, de estampas, em artigos do vestuário.

Fundamentação Teórica

A proposta de estudos do bloco fragmentação, me oportunizou esclarecer alguns conceitos acerca desse eixo temático. Neste sentido as obras que mais me influenciaram e que escolhi como referência para o desenvolvimento deste exercício, foram a pintura de  Roy Lichtenstein e a colagem de Mimmo Rotella.




     Cinemascope, 1962 - Mimmo Rotella
M­Maybe (A Girl's Picture), 1965 - Roy Lichtenstein         


O que mais chama a atenção nessas obras é que elas saem do plano conceitual e utilizam a fragmentação dentro de um processo prático. Há uma apropriação poética, de imagens difundidas nos meios de comunicação,  que tem sua unidade fragmentada, para dar  um novo sentido à sua visualidade, oferecendo assim a possibilidade de uma nova experiência estética.

Esta característica, de imagens com  caráter artificial, vazio e fragmentário, é uma das marcas da Pop Art, movimento que procurava registrar com ironia a visão do dia a dia  das cidades americanas e da sociedade de consumo, tentando romper as barreiras entre a arte e a vida comum, como o retrato de uma geração que aceitava o processo de produção em massa.

Os ídolos e produtos disputados pelos consumidores passaram a inspirar o  processo artístico, ao contrário de outros movimentos que retratavam, à  sua maneira, paisagens ou figuras humanas. Dessa forma,  entre os principais artistas que influenciam a moda estão Roy  Lichtenstein e  suas pinturas estilizadas de  histórias em quadrinhos, Andy Warhol, que via arte nos produtos de consumo em massa, Jasper Johns  e  suas bandeiras americanas e Robert Indiana e a série "Love".


Artes gráficas e Moda

A moda e as artes gráficas sempre tiveram uma relação muito próxima, e suascomposições  estéticas, muito influentes, acabaram estampadas também na maneira de  vestir.

Um dos processos mais utilizados na moda, que utiliza as artes gráficas como recurso criativo, é a serigrafia ou silk-screen. A técnica consiste basicamente em um método de gravação, que  utiliza o princípio químico da fotosensibilidade, podendo ser feita de forma mecânica por pessoas, ou de forma automatizada por máquinas.

O termo serigrafia é creditado a Anthony Velonis, que influenciado por Carl Zigrosser, crítico, editor e nos anos 1940, curador de gravuras do Philadelphia Museum of Art, propôs a palavra serigraph (em inglês), do grego sericos (seda), e graphos (escrever), para modificar os aspectos comerciais associados ao processo, distinguindo o trabalho de criação realizado por um artista dos trabalhos destinados ao uso comercial, industrial ou puramente reprodutivo.

Alguns artistas iniciaram um importante trabalho de transformar um meio mecânico, cujas qualidades gráficas se limitavam às impressões  comerciais, numa importante ferramenta para desenvolver seus estilos pessoais. Neste contexto podemos citar, a partir dos anos de 1950,  incluindo os expressionistas abstratos e os action painters ,  como Jackson Pollock, até  Marcel Duchamp, que não era exatamente um artista-gravador, mas nos  deixou um auto-retrato de 1959, uma serigrafia colorida que está no MoMA, em Nova York.



Poster after Self-Portrait in Profile, 1959 - Marcel Duchamp
 Screenprint, composition (irreg.): 7 15/16 x 7 15/16" (20.1 x 20.1 cm); sheet: 25 9/16 x1913/16" (65 x 50.4 cm). Gift of Lang Charities, Inc. © 2012 Artists


As barreiras e definições estabelecidas que tratavam a serigrafia como uma "manifestação gráfica menor", só foram eliminadas no   início dos anos 60. O grande responsável por isso foi o processo fotográfico utilizado através da serigrafia e novos conceitos e movimentos artísticos, como aPop Art e aOp Art, além do avanço tecnológico. Foram ressaltados, entre outros, alguns pontos básicos da técnica, como a   sua extrema adaptabilidade que permite a  aplicação sobre qualquer superfície, inclusive tridimensional, muito  conveniente para certas tendências artísticas, e suas especificidades  gráficas próprias, ou seja características gráficas que apenas a serigrafia pode proporcionar.

Estudo de caso:T-shirt Mao

A camiseta "Mao", foi parte integrante da Coleção Inverno 2008, de t-shirts masculinas, da marca Equipaggio. A temática abordava a cultura chinesa, e fazia uma homenagem ao país, que sediaria as Olimpíadas de 2008.

A coleção inspirou-se nos principais aspectos culturais da China:  suas tradições milenares, símbolos e crenças.  Vale ressaltar que o diferencial damarca, teria de estar focado nas estampas e silks, já que a proposta era desenvolvida para um público jovem, com faixa etária entre 15 e 25 anos, oriundos das classes C e B.

Uma das referências mais citadas e  emblemáticas, que apareceram durante o período de pesquisas e planejamento, foi a do  fundador da República Popular da China e um dos mais proeminentes teóricos do comunismo do século 20, Mao Tsé-Tung , que promoveu a  Revolução Cultural  que perseguiu intelectuais e velhas  lideranças.

A grande questão era como trabalhar a referência da imagem de Mao em uma estanpa, devido à sua aparência, sempre tão sisuda e séria, encontrada na maioria das fotografias selecionadas. A idéia era dar um ar mais descontraído e moderno à menção do líder revolucionário. A estratégia encontrada para atingir esse objetivo foi, primeiramente, utilizar uma referência de fotografia de um Mao Tsé-Tung mais jovem e, em seguida mesclar elementos com um ar mais"pop", para quebrar a essência rígida do chefe de estado.

A imagem escolhida para desenvolver a camiseta Mao, foi a de uma fotografia, em que o líder aparece em sua fase jovem, fardado e com um olhar contemplativo, em comparação às famosas e tão recorrentes imagens, de outro  guerrilheiro que marcou o século XX, Che Guevara. A imagem de Mao recebeu um tratamento especial, de maneira que mesmo vetorizada, manteve sua expressão contemplativa. Para complementar, foram utilizados recursos gráficos, como "splashs" de tinta, círculos , uma frase simbólica e uma máscara, que seccionou a imagem em colunas, análogo a um efeito gradeado.

Dessa forma, pode-se dizer que a estampa, adquiriu um caráter "pop" e fragmentado,  com intenção similar à obra de Lichtenstein, ao
selecionar e ampliar, apenas uma  parte de uma história bem mais longa, e que assim não poderia ser associada diretamente, mas subentendida. Assim, formas  complexas foram simplificadas em busca de uma síntese plástica, que favoreceu a comunicação visual.


Fotografia de Referência de Mao Tsé-Tung, e detalhe da estampa produzida:






"Camiseta Mao" Imagem de Lookbook - Coleção Equipaggio Inverno 2008

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